sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

HISTÓRIA DO CURSILHO

BREVE HISTÓRICO DO MOVIMENTO DE CURSILHOS DE CRISTANDADE (Este histórico foi adaptado da publicação Mensagem do MCC do Brasil.)

Os Cursilhos nas origens: o Movimento de Cursilhos ou “a obra dos Cursilhos”, como se dizia, teve seu início no singular contexto social, econômico, político e religioso da Espanha nas décadas de 1930-1940. Coube a iniciativa à Juventude da Ação Católica Espanhola (JACE) da Diocese de Palma de Maiorca (Ilha de Maiorca, Espanha), encorajada por seus assistentes eclesiásticos e por seu Bispo, D. Juan Hervás.

Participando de peregrinações promovidas pela JACE a destacados Santuários nacionais e, especialmente da preparação e realização da grande Peregrinação levando 80.000 jovens a Santiago de Compostela, em agosto de 1948, intuíram eles a “obra dos Cursilhos”. Aqueles “cursillos” ou pequenos cursos preparatórios à peregrinação, ministrados a milhares de jovens por toda a Espanha, durante vários anos, poderiam continuar a ser desenvolvidos, agora com outro direcionamento. Marcado por essa sua origem “peregrinante”, o MCC guarda, ainda hoje, algumas expressões típicas, como por exemplo, “Ultreya” (ir mais adiante, caminhar mais além com entusiasmo) e “Guia do Peregrino” (pequeno livro de orações). Num processode “inculturação” do Movimento, no Brasil adotaram-se os termos “assembléia mensal” em lugar de “ultréia” e “Peregrinando Com Cristo” que vem substituir o antigo“Guia do Peregrino”.

Um eixo doutrinário específico, constituído pelo anúncio jubiloso do Evangelho, através de um método próprio - o querigmático-vivencial - facilitaram a conversão entusiasmada de muitos jovens e sua inscrição nas fileiras da JACE. A conquista do mundo para Cristo era sua bandeira. Esse foi o objetivo específico daqueles primeiros cursilhos denominados: “Cursilho de Formação e Apostolado” o primeiro, em janeiro de 1949; “Cursilhos de Juventude” alguns outros, e “Cursilhos de Conquista”, em 1952-53.

Alguns jovens sacerdotes da Diocese de Palma de Maiorca que trabalhavam com a Ação Católica e com a JACE, estavam naturalmente influenciados pelas ainda recentes Encíclicas “Mystici Corporis” (1943) e “Mediator Dei” (1947), do Papa Pio XII. Um deles chegara recentemente de Roma, doutorado em Teologia e, segundo suas próprias palavras, “tinha obsessão por explicar às pessoas a verdadeira dimensão do cristianismo a partir da consciência do que era a Graça de Deus... levei à reunião dois tratados teológicos: ‘De gratia Redemptoris’ (Sobre a graça do Redentor, de Lennerz, e o volume correspondente da sinopse de Tanquerey...”.(BOSH, Juan Capó, Pequeñas historias de la historia de los Cursillos de Cristandad, Secret. Nacional Espanã, 1970.) Essas circunstâncias facilitaram a descoberta do eixo doutrinário dos “cursillos”: a GRAÇA seria a sua decisiva e fundamental motivação. O método característico do Movimento surgiu do seu cunho vivencial, testemunhal, simples, honesto e transparente, ainda que o entusiasmo daí resultante pudesse tocar, de preferência, na emotividade das pessoas, o que não deixava de ser sumamente oportuno.

Como projeto e iniciativa da JACE, a “obra dos Cursilhos” expandiu-se por quase todas as dioceses da Espanha, embora contasse, também, com muitos adversários tanto no seio da própria Ação Católica como até da hierarquia. Diante de Roma e dos demais Bispos da Espanha, D. Juan Hervás assumiu pessoalmente a responsabilidade pela obra, dando a ela apoio efetivo, orientação pastoral e defendendo-a das acusações de que era vítima. Isso lhe valeu a transferência da Diocese de Maiorca para a de Ciudad Real. Em Maiorca, os Cursilhos, postos sob suspeita, foram praticamente suspensos pelo sucessor de D. Hervás, Mons. Enciso Viana, enquanto alguns dos iniciadores eram reduzidos ao silêncio. A suspensão provisória durou até fins de 1957. Em 1958 os Cursilhos voltaram a ser ali reorganizados.

Em 1953, na 15a. Assembléia Geral da JACE, tentando resolver dificuldades internas de relacionamento e de estrutura, D. Hervás deu àqueles “cursillos” o nome Cursilho de Cristandade: “... felicitação, sobretudo, por estes abençoados ‘cursilhos de Cristandade’, que têm a sorte, como Jesus Cristo, de ser ‘sinal de contradição, postos para tropeço e contradição de muitos’ ”, foram suas palavras entusiasticamente aplaudidas.(CAPÓ, Jaime, Cursillos de Cristandad, Ed. Águas Buenas, Porto Rico, 1989.)

Procurava-se explicar que o termo “cristandade” não tencionava caracterizar uma volta à Igreja medieval. Tratava-se, porém, de uma tentativa de fazer com que o mundo, “de costas para Deus”, como se dizia, se transformasse “em cristão”, pela ação de uma “cristandade” nos moldes das pequenas comunidades primitivas. Para isso era necessário escolher nos ambientes “homens-vértebras”, convertê-los nos Cursilhos e recolocá-los em seus ambientes de origem, “conquistando-os” para Cristo ou “vertebrando-os” para que se fizesse uma “cristandade”.(Id. ib., p. 59ss.) Sobre esse termo e conceito produziu-se no Movimento abundante literatura explicativa, nem sempre com enfoques muito felizes: “Cristandade” continua sendo um termo equívoco também no seio dos Cursilhos.

Os Cursilhos no Brasil: o espírito apostólico de alguns sacerdotes e leigos da Missão Católica Espanhola, então em franca atividade, fez com que, na Semana Santa de 1962, acontecesse o primeiro Cursilho de Cristandade do Brasil, realizado em Valinhos (São Paulo).
O clima pastoral de toda a Igreja era de renovação e de grandes esperanças. Em Roma o Concílio Vaticano II caminhava para a sua segunda sessão, enquanto, aqui no Brasil, começava a ser implementado, com entusiasmo, o Plano de Pastoral de Emergência, sugerido pelo Papa João XXIII ao Episcopado brasileiro (quatro anos depois o PPE seria substituído pelo Plano de Pastoral de Conjunto = PPC). (QUEIROGA, Gervásio F., CNBB - Comunhão e Responsabilidade, Ed. Paulinas, S. Paulo, 1977, p. 321.)

Iniciativas pastorais as mais variadas e alguns movimentos de renovação eram acolhidos por quase todas as Dioceses e Paróquias do Brasil. Nesse contexto, o Movimento de Cursilhos encontrou terreno preparado para uma notável expansão, ainda que profundamente marcado por suas origens e suas características.(Id. ib., p. 330ss.)

É verdade - e reconhecemos - que, aqui no Brasil, os cursilhos não procuraram, nos seus inícios, sintonizar-se mais estreitamente com o Plano Pastoral, então emergente, nem buscaram um claro e eficiente entrosamento na pastoral diocesana. A despeito do apoio precioso de tantos bispos em todo o Brasil, e do entusiasmo de milhares de leigos, durante mais de uma década faltou um diálogo em profundidade que pudesse marcar a identidade do Movimento e suas funções no contexto pastoral nacional. Disso até hoje o MCC se ressente.

Contudo, não se pode ignorar - e nem deixar de registrar e louvar a Deus por isso -, o imenso bem operado através dos Cursilhos, tanto em milhares de pessoas que reencontraram o caminho do coração do Pai, como em benefício de tantas Igrejas particulares. Muito fervor foi reacendido, muitos apóstolos suscitados, muita ação pastoral, sobretudo intra-eclesial, foi motivada.

Além disso, pode-se afirmar, sem medo de engano, que o MCC, no Brasil, sempre se distinguiu por seu espírito renovador incentivado, entre outros, pela extraordinária e dinâmica figura de sacerdote e apóstolo, Pe. Paulo Cañelles, tragicamente falecido aos 45 anos de idade. Surgiram no seio do Movimento lideranças respeitáveis e respeitadas no mundo dos Cursilhos que levaram a inúmeros Encontros Mundiais, Continentais e Nacionais reflexões, sugestões e experiências que influenciaram substancialmente o seu desenvolvimento e progresso em todos aqueles níveis. Ali o MCC do Brasil deixou marcas profundas de sua atuação, embora nem sempre tenha sido tranqüila, ontem como hoje, a aceitação de suas propostas em algumas instâncias internacionais do Movimento.

Num outro momento significativo de sua história, o MCC do Brasil, ao desenvolver sua maturidade pastoral e uma mais comprometida sintonia eclesial com a Pastoral de Conjunto, questionado pelo acontecimento e Documento de Puebla, em sua Assembléia Nacional de 1979, assumiu “integral e incondicionalmente o espírito e as diretrizes do Documento de Puebla na sua totalidade.”. (Cf. Declaração da VII Assembléia Nacional do MCC do Brasil, nov. 79, Encarte Rev. ALAVANCA, 137/138, n. 3, p. 26.).

Essa decisão fez com que se tentasse uma revisão ainda mais profunda em termos de Pré-cursilho e de Cursilho, mas, sobretudo, de Pós-cursilho. Por mais de dez anos, e orientado pelo trabalho de Pós-cursilho apresentado no V Encontro Interamericano de Santo Domingo (1980), o MCC do Brasil esteve empenhado na implementação de um Pós-cursilho em comunhão ativa e efetiva com as Diretrizes Pastorais da Igreja no Brasil e com as orientações de Puebla.

Foi com esse espírito que se tratou de adaptar à caminhada da Igreja no Brasil, não só os Esquemas das palestras ou “rollos” do Cursilho, mas o espírito e a prática pastoral de todo o MCC. Assembléia e Encontros Nacionais, Assembléias Regionais e Diocesanas, enfim, todas as instâncias do Movimento foram constantemente mobilizadas para que essa adaptação e mobilização passassem da letra à prática. Esse empenho sempre constituiu a grande tarefa dos responsáveis do Movimento em todos os seus níveis, e explica porque o material relativo ao MCC, produzido pelo GEN, se renova periodicamente.

Para concluir esse histórico, acrescentamos que de fevereiro de 2002 a fevereiro de 2006, por eleição dos países-membros do GLCC (Grupo Latino-americano dos Cursilhos de Cristandade) como país-sede do OMCC (Organismo Mundial dos Cursilhos de Cristandade). Foi um período de longo e profícuo trabalho que obteve, entre outras, duas grandes vitórias: a de levar a cabo a aprovação por parte da Santa Sé, através do Pontifico Conselho para os Leigos, do Estatuto do próprio OMCC, através de um Decreto reconhecendo o MCC como Movimento Eclesial, e, ao final de 2005, a realização do VI Encontro Mundial do MCC, evento previsto no mesmo Estatuto, durante o qual um grande número de países onde existem Cursilhos e que têm um Secretariado Nacional, reúne-se para refletir, discutir e decidir a caminhada do MCC em nível mundial.

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