sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Postado por Tania

São João Julião Eymard O Santo da Adoração

ADORAÇÃO AO SS. SACRAMENTO
Formação: Marcio

1. O OBJETO E O FIM DA ADORAÇÃO

Para compreender bem a natureza de uma virtude, os deveres que ela impõe, os atos que deve inspirar e o espírito com que estes devem ser feitos, precisa-se conhecer-lhes o mais claramente possível o objeto e o fim.

Qual vem a ser pois o objeto, qual o fim da Adoração ao Santíssimo Sacramento, o ato por excelência entre todos os atos da virtude da religião?

A adoração tem um tríplice objeto e deve considerar-se debaixo de um tríplice aspecto:

- é antes de tudo ao Senhor Jesus, oculto sob os véus eucarísticos, que ela deve dar honra;
- é, depois, a alma do adorador que ela deve santificar;
- é finalmente o próximo a quem deve assistir e auxiliar.


A ADORAÇÃO EUCARISTICA EM RELAÇÃO AO SENHOR JESUS

I. Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente presente no Santíssimo Sacramento, tem todo o direito a ser adorado.
Proclama-o a sua Divindade com todas as suas perfeições infinitas; o seu titulo de Fim Supremo e Soberano.
Proclama-o também a sua Humanidade deificada desde o seio de Maria pela união hipostática do Verbo; e, por um novo titulo, essa Humanidade glorificada à direita do Pai nos céus, onde, em recompensa dos seus sofrimentos e morte, lhe foi dado o direito de exercer o domínio universal.
Proclama-o mais uma vez e não menos evidentemente a Santíssima Eucaristia, isto é, a presença real de Jesus Cristo sob os véus do Sacramento; a sua realidade, a sua perpetuidade e a sua universalidade. Porque se Jesus está presente no mundo, a realidade da sua natureza divina e humana exige a adoração devida à sua divindade e à sua humanidade. Se está de uma maneira ininterrupta e constante, que desafia o tempo, é para receber, mesmo aqui na terra, como as recebe nos céus, as adorações a que tem direito rigoroso e inalienável depois da sua vitória pela ressurreição. Se multiplica por toda parte a sua augusta e benéfica presença, é porque o império que conquistou se dilata por toda a terra, e ele o quer ver reconhecido de fato por todas as nações, e em todos os lugares.
Eis a razão fundamental da Adoração, e que se impõe a todos os homens: render a Jesus Cristo, Deus, Homem, Rei, presente no SS. Sacramento, - e por causa dessa mesma presença, - as adorações que lhe são devidas por todos os títulos.

II. Do exposto, deduzem-se duas conseqüências importantes: uma faz-nos apreciar a Adoração no seu justo valor; a outra ensina-nos a praticá-la.


Primeira conseqüência: o valor da Adoração.

A Adoração é um trabalho santo, uma função angélica, algo de divino: porque nos dá Deus realmente presente sobre a terra como objeto imediato a honrar, a servir, a reverenciar face a face.

A Adoração é um dever, uma função, um emprego mais nobre, mais elevado e mais glorioso que se possa dar à Pessoa de Jesus Cristo, reconhecendo os direitos pessoais de Jesus Cristo, que excedem infinitamente os direitos e necessidades do próximo, que não passa de criatura.


Segunda conseqüência: espírito prático da Adoração ao Senhor Jesus.

Tendo o Senhor Jesus Cristo como objeto imediato a reconhecer e a honrar, a Adoração exige de nós a pureza e santidade da vida:

- ninguém se apresenta ao serviço de um rei de qualquer maneira, sem a veste adequada;
- no céu, os anjos que circundam o trono da glória são a mesma pureza, e os santos só são admitidos à adoração eterna porque estão purificados das mais leves sombras não só do pecado mas de tudo quanto dele resulta.

























A ADORAÇÃO CONSIDERADA EM RELAÇÃO A NÓS MESMOS

Com relação a nós, a Adoração se reveste de um duplo caráter e nos impõem obrigações que devem ser bem conhecidas:

- primeiro, é nosso principal dever;
- segundo, é nosso principal meio de santificação.


A Adoração é nosso principal dever.

São Pedro Julião Eymard diz, com uma suavidade incomparável: "Considerai a hora da vossa Adoração como uma hora do Paraíso; ide para ela como quem vai para o céu, para o divino banquete; e então essa hora será por vós desejada, saudada com alegria; avivai no coração o desejo de fazê-la. Quando alguma hora for incômoda para a vossa natureza, regozijai-vos ainda mais; o vosso amor será maior, porque é mais sofredor. Quando por doença ou impossibilidade não possais fazer a adoração, deixai o coração entristecer-se um momento; depois fazei a adoração em espírito, unindo-vos aos que então adoram, e conservando-vos durante essa hora num recolhimento mais profundo".

Estas palavras indicam dum modo bem claro que a Adoração é o nosso principal dever. Donde se segue que é preciso ligar-lhe a maior importância e que, se deixamos de o cumprir, ou não o cumprimos bem, toda a nossa vida se ressentirá disso.

Daí a necessidade de reconhecer na prática a importância da Adoração, do seguinte modo:
- tendo-a em maior conta do que todos os exercícios de devoção particular, do que a própria saúde e os cuidados da vida.
- dispensando-lhe todos os cuidados e prestando-lhe todas as atenções que ela merece; preparando para ela o espírito e o coração pelo recolhimento habitual no amor do Senhor (“Permanecei em mim, no meu amor”); cuidados em preparar a consciência, pela pureza e delicadeza, asseguradas por meio de um bom e freqüente exame; cuidados em preparar o próprio corpo, evitando todo o excesso mesmo de trabalho e zelo, que o impossibilite, por excitação ou fadiga, de cooperar na Adoração pelo recolhimento dos sentidos.

Finalmente, se a Adoração é o principal dever, tudo deve tender e dispor a ela: os cuidados e a oração, as ações e as virtudes, o trabalho e a mortificação, as alegrias e as tristezas: a vida inteira deve girar em torno desse eixo e convergir para esse centro.








A Adoração é excelente meio de santificação.

A Adoração seria imperfeita se, tendendo a honrar a Deus, não procurasse também a própria santificação. Por isso ela é, por sua natureza, teórica e prática, especulativa e moral. Busca a honra de Deus pela fé, pelo amor, pelo louvor do espírito, do coração e da vontade.

Mas Deus tem direito a mais. E' a vida inteira, a vida prática, que deve louvá-lo pelo concerto de todas as virtudes, provadas por ações manifestas.

O louvor perfeito de Deus consiste na semelhança com ele pela santidade: começa na convicção, no desejo, na resolução, e deve acabar nas obras.

Desta forma a Adoração tem um duplo fim:
a) honrar a Deus pelo louvor das faculdades interiores, e
b) santificar o homem, tornando-o capaz de louvar a Deus com virtudes e obras.

Mas as virtudes, para lançarem raízes na alma, necessitam do trabalho preparatório da oração. E' na oração, feita em silêncio e recolhimento, que as sementes sobrenaturais germinam, surgem as primeiras raízes, desenvolvem a haste que dentro em pouco se revelará nas ações. A oração é a elaboração interior da santidade.

Os mestres da vida espiritual estão de acordo em ensinar que ela é o meio indispensável de santificação para todos, para o padre, para o religioso, para o fiel-leigo, porque é o único meio capaz de conduzir ao conhecimento e à reforma de nós mesmos.

Ora, para nós, a oração é a Adoração. Poderá haver algo melhor do que esta, feita aos pés de Jesus, o mestre, o meio e o modelo de toda a oração? feita na sua presença, em união com a sua oração, no lugar santificado para orar, onde se respira uma atmosfera toda impregnada das graças da oração?

A Adoração deve pois produzir em nós, - como toda oração assídua, - o resultado da santificação efetiva e das virtudes práticas. Mas isto com a condição de fazermos dela um exercício de conhecimento de nós mesmos e de reforma dos nossos costumes.

1. Na Adoração trabalharemos no conhecimento de nós mesmos. Isto quer dizer: havemos de consagrar uma parte do tempo a um trabalho pessoal de exame do nosso estado espiritual, de discussão dos nossos atos, e de aplicação à nossa própria vida das conclusões práticas e morais, relacionadas com a Adoração.

2. Ocupar-nos-emos durante a Adoração da reforma dos nossos costumes, da emenda das nossas faltas, das nossas paixões e vícios; por meio dum exame atento, exato e prolongado, questionando tudo nas suas causas e efeitos; pelo arrependimento, contrição e detestação do mal em que nos reconhecermos; pelas resoluções formais e precisas, que devem ter por objeto conclusões claramente definidas.

Quanto ao tempo a empregar neste trabalho prático da santificação, pode dizer-se que deve levar pouco mais ou menos a metade da Adoração, pois, segundo o método dos quatro fins do sacrifício, a segunda parte da hora da adoração é consagrada à Reparação e à Súplica.

A Reparação provoca muito naturalmente o exame dos atos, a satisfação pelo arrependimento e mudança de vida.

A Súplica só será feita quando nela se pedirem graças determinadas, de harmonia com as necessidades averiguadas na nossa alma, e com a firme resolução de as aproveitar, e quando se tomou a resolução de agir com firmeza e constância.

A santificação é uma obra de toda a vida, e cada um dos obstáculos a vencer ou dos passos a dar para a conseguir, demanda longo e perseverante trabalho. Mas a paciência consegue tudo.

Algumas considerações finais

Até agora vimos algumas “regras práticas” da Adoração, considerada em relação a nós mesmos. Se as desprezamos, a Adoração cai forçosamente num dos defeitos seguintes :

I. A especulação pura, estudo e trabalho exclusivo do espírito, curiosidade intelectual, coisas estas que, postas no lugar da oração, são o alimento mais substancial do orgulho espiritual. Isto conduz, mais cedo ou mais tarde, à alianças estranhas e funestas de belos pensamentos, de belas representações da imaginação sobre todas as verdades da religião, com uma vida tíbia, pouco regular e finalmente culpável.

2. Uma sentimentalidade exagerada (sentimentalismo) e superexcitação imaginativa, que geram a piedade frouxa, egoísta, personalista, variável e inconstante, sem valor, sem energia, sem força para o sacrifício; onde tudo se passa em sonhos mais ou menos belos, projetos mais ou menos lindos, promessas sem fidelidade, entusiasmo sem fundamento, começos sem continuação.

3. Enfim, pior ainda! A preguiça espiritual, uma espécie de sonolência do espírito, do coração e da vontade, que gera o torpor, depois a rotina, e torna a Adoração absolutamente nula; nula como homenagem de religião, nula como causa de santificação. Daí ao aborrecimento na adoração, ao desgosto deste santo exercício, à infidelidade a este dever capital, não vai muito. Mas, se se chega a dar este último passo, é a infidelidade à nossa divina vocação, é a apostasia do serviço da Santíssima Eucaristia !




A ADORAÇÃO CONSIDERADA EM RELAÇÃO AO NOSSO PRÓXIMO

I. A Adoração, sendo essencialmente o fruto da Caridade perfeita, depois de atingir o seu primeiro e adorável “objeto” que é o Homem-Deus Sacramentado, não pode deixar de ser levada, pelo mesmo impulso de caridade, ao serviço do próximo.

O amor do próximo é inseparável do amor de Deus. E não o seu sinal, mas o seu efeito necessário, o seu fruto natural.

A mesma seiva alimenta ambos: são dois ramos do mesmo tronco. Crescem, dão flor, cobrem-se ao mesmo tempo dos frutos; mas também definham e secam ao mesmo tempo e na mesma medida: "Quem diz que ama a Deus e não ama o seu irmão é um mentiroso", diz S. João, o Apóstolo da caridade.

São Pedro Julião Eymard nos diz, com a sua autoridade de Fundador, o que deve ser a nossa Adoração a respeito do próximo :

"Que o adorador se entregue ao sublime ministério da Adoração como enviado da Congregação e da Igreja". A súplica é um dos fins essenciais da Adoração segundo o método dos Quatro fins do Santo Sacrifício; ela deve pois ocupar um tempo normal, a quarta parte da Adoração.

"A súplica, diz São Pedro Julião Eymard, deve coroar a nossa adoração e constituir o seu glorioso troféu. A súplica é a força e o poder da oração eucarística. Nem todos podem pregar a doutrina de Jesus Cristo pela palavra, ou trabalhar diretamente para a conversão dos pecadores e para a santificação das almas. Mas todos os adoradores têm a missão de Maria aos pés de Jesus: é a missão apostólica da oração, e da oração eucarística, no meio dos esplendores do culto, ao pé do trono da graça e da misericórdia. A oração eucarística vai diretamente ao coração de Deus; como um dardo inflamado faz trabalhar, operar, reviver Jesus em seu Sacramento. Põe em ação o seu poder. O adorador faz mais ainda: pede por intermédio de Jesus Cristo, põe-no sobre o seu trono de intercessão junto do Pai, como advogado divino de seus irmãos resgatados.

" A vossa missão é pedir perdão juntamente com Ele para todos os culpados, pagar o seu resgate à divina misericórdia que precisa de corações suplicantes; é tornar-vos vítimas de propiciação com Jesus Salvador que, não podendo mais sofrer depois da sua ressurreição gloriosa, sofrerá em vós e por vós.

"Esta divisa: “Adveniat regnum tuum!” (Venha a nós o vosso reino) deve ser a regra da oração dos adoradores. Que eles ofereçam suas adorações pelo Sumo Pontífice e por todas as suas intenções; pelos sacerdotes e pelos fieis-leigos engajados na Pastoral; pela exaltação da nossa Santa Mãe Igreja; para obter as bênçãos de Deus sabre a Congregação e a santificação de seus irmãos; por todas as pessoas constituídas em dignidade, tanto na Igreja como no Estado; especialmente por todos os padres, a fim de que Jesus viva neles pelo amor e santidade; pela destruição das heresias e a superação dos cismas; para obter aos judeus a graça de reconhecerem a Jesus Cristo, aos pagãos a de adorarem o seu Salvador; enfim para que todos os homens do mundo cheguem a amar Nosso Senhor Jesus Cristo e venham ao seu Sacramento de vida!"

Destas palavras e das considerações precedentes, resulta que temos na Adoração um verdadeiro ministério de caridade a cumprir para com o próximo. Aí devemos ser intercessores, advogados, mediadores, apóstolos.

Pensar, na Adoração, somente em nós, pedir somente pelos nossos interesses pessoais, por mais santos que sejam, não é o bastante. Devemos ter corações generosos, desinteressados, dedicados, abertos a todos os santíssimos interesses de Jesus Cristo, às necessidades do mundo inteiro.

Os grandes desejos, os ardores que consomem, as santas torturas de angústia pelas almas e pela Igreja devem inflamar e consumir nossos corações.

Tal é a adoração em relação ao nosso próximo: obra de caridade perfeita, de zelo apostólico, de dedicação universal e infatigável. Seus meios são, acima de tudo, a oração e a imolação interior. Porém, não nos esqueçamos de que a condição indispensável a todo o mediador, se quer ser ouvido, é a pureza, a santidade, o afastamento do pecado e a vida sobrenatural.

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